Tendo em vista a redescoberta da identidade cristã, expressa na celebração e vivência da fé, visível no exercício da caridade e animada pela esperança, a celebração do tríduo pascal merece, por parte de todas as comunidades cristãs, uma atenção privilegiada. É importante que seja entendida e sentida como a mãe de todas as celebrações para a qual, ao longo do ano litúrgico, nos orientamos e a partir da qual nos renovamos em Cristo. A Páscoa deve, por isso, ser uma oportunidade para, dentro e fora das igrejas, encontrarmos caminhos de nova evangelização que estimulem à presença de Cristo Ressuscitado na História da Humanidade.
É de louvar o intuito da Semana Santa de Braga de suscitar nas comunidades da cidade esta responsabilidade de vivência pascal, sobretudo nas eucaristias e nos tradicionais compassos. De modo semelhante, todas as comunidades da nossa Arquidiocese deveriam programar as suas actividades segundo esta lógica. Na ausência do encontro real e festivo com Jesus, nenhuma tradição é válida por si mesma.
Gostaria, neste sentido, de recordar uma determinação do nosso Sínodo Diocesano. “Valorize-se a celebração da Eucaristia como centro da vida cristã, nos domingos e dias festivos, particularmente no Domingo de Páscoa. Este dia seja vivido em ambiente de festa, preparado através de um tríduo celebrado com dignidade e empenho por toda a comunidade e renove-se a tradição do «compasso» ou «Visita pascal», revestindo-a da dignidade que lhe é devida; ou promovam-se outras iniciativas que testemunhem de modo adequado a alegria do mistério pascal”. Esta determinação levou, mais tarde, à publicação da Nota Pastoral sobre a Visita pascal (04/01/2004). Aconselho vivamente a sua leitura, assim como a sua plena concretização nas comunidades.
Os cristãos, enquanto peregrinos no mundo e conduzidos pela pátria eterna, devem ter como prioridade a responsabilidade de semear a Palavra de Deus. Ela é, sem dúvida, digna de confiança e produz esperança. S. Pedro estimula a esta caminhada quando recomenda que os cristãos “devem estar sempre prontos a dar a razão da esperança a todo aquele que perguntar” (1 Pe 3,15). Seja pela via do testemunho pessoal ou comunitário, a Igreja não pode fugir à responsabilidade de apresentar a sua identidade ao mundo. Os cristãos testemunham Cristo Ressuscitado e, como tal, são portadores e semeadores de esperança.
Na celebração do tríduo pascal percorre-se a via sacra de Jesus para depois culminar na experiência de um encontro novo com Cristo. É um percurso de purificação, de libertação das incoerências e infidelidades para anunciar que a morte foi vencida. A Igreja não é uma comunidade de segregados.
Está no mundo como “estrangeira e peregrina” mas tem consciência de ser uma comunidade de salvação, aberta a todos, um “povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas d’Aquele que vos chamou das trevas para a Sua luz maravilhosa” (1 Pe 2,9).
Convido todas as comunidades da Arquidiocese a um trabalho sério de tomada de consciência da centralidade da Páscoa no quotidiano das suas vidas. Como sinal eloquente deste caminho espiritual, creio que o compasso deve ser preparado convenientemente e vivido festivamente. Percorramos, de casa em casa, as estradas das nossas cidades e aldeias com traços de beleza e, no final, juntemos todos os compassos como sinal de que esperança brotará no coração dos homens e das instituições.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz